- Ano: 2023
Detalhes
CATEGORIA: Voto de Pesar
ID: VP.003-AMA-2023
DATA DA DELIBERAÇÃO: 2023/04/27
ORIGEM: Grupo Municipal do PS
FORMA DE VOTAÇÃO: Nominal
DELIBERAÇÃO: Aprovação por Unanimidade
RESUMO:
Voto de Pesar apresentado pelo Grupo Municipal do PS, relativo a "Pelo Falecimento de Maria Antónia Fiadeiro" e ao abrigo da alínea a) do n.º 1 do artigo 53.º do Anexo I à Lei n.º 75/2013 de 12 de setembro, na sua atual redação, e alínea d) do n.º 2 do artigo 36.º do Regimento.
A Assembleia Municipal da Amadora, reunida em sessão ordinária de abril, deliberou aprovar o Voto de Pesar Pelo Falecimento de Maria Antónia Fiadeiro.
Documentos
Subitamente fomos confrontados com o falecimento, no dia 31 de março do presente ano, em Lisboa, cidade que, também, a viu nascer, em 1942, de Maria Antónia Fiadeiro, de seu nome completo Maria Antónia Correia Ribeiro Fiadeiro.
Maria Antónia Fiadeiro, filha de Inácio Fiadeiro e Maria Stella Bicker Correia Ribeiro também conhecida por Stella Piteira Santos, ambos ativistas antifascistas.
Maria Antónia Fiadeiro vivenciou a separação dos pais, tendo-se mudado para a Amadora com a sua mãe, com quem ficou a viver acompanhada pelo o padrinho e padrasto, o político, Fernando Piteira Santos com quem Stella Piteira Santos veio a casar em 1948.
Encontrava-se a frequentar o quarto ano do Curso de Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, quando se envolveu ativamente na Crise Académica de 1962, ao prestar apoio aos estudantes em greve de fome na cantina da Cidade Universitária, tendo sido presa pela PIDE.
Em 1964, na companhia do, então, marido Alfredo Nascimento, partiu para o Exílio primeiro para a Argélia onde já se encontravam exilados Stela Piteira Santos, sua mãe e o padrasto, Fernando Piteira Santos, seguindo, depois, para Paris, cidade onde nasceram os seus dois filhos mais velhos, um deles João Fiadeiro, artista, coreógrafo, performer, professor e investigador.
Mais tarde a família segue para o Brasil, onde, em 1970, Maria Antónia Fiadeiro, se licenciou em Filosofia Pura pela Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo.
É, em S. Paulo, onde dá os primeiros passos no jornalismo, escrevendo para a Gazeta de S. Paulo e a única mulher a trabalhar na Rádio Eldorado.
No dia 26 de novembro de 1972 regressou a Portugal com os filhos e foi, novamente, detida pela PIDE, que a aguardava no Aeroporto de Lisboa, tendo passado um mês no Estabelecimento Prisional de Caxias.
Após sair da prisão assumiu a direção literária nas Publicações Europa-América.
Em 1974 conheceu Maria Antónia Palla, jornalista do Século e, após candidatura a uma vaga para a “Revista Modas e Bordados”, foi admitida sob a chefia de Maria Antónia Sousa e, com estas duas - Maria Antónia Palla e Maria Antónia Sousa -, em 1977, assumiu a direção do Sindicato dos Jornalistas, tendo sido apelidadas, por Maria de Lurdes Pintassilgo, “As três Antónias” à semelhança de “As Três Marias”.
Em 1975 foi nomeada chefe da redação da “Revista Modas e Bordados” atribuindo-lhe um cariz mais feminino e alterado o nome para “Mulher, Modas e Bordados”, abordando vários temas sobre a mulher e a condição feminina, o aborto ou a contraceção, sendo, igualmente, feitas entrevistas a mulheres ligadas à política portuguesa.
Maria Antónia Fiadeiro foi jornalista ativista, lutou pelos direitos das mulheres, nomeadamente pela interrupção voluntária da gravidez, tendo escrito, em 1984 o livro “Aborto, O crime está na Lei”.
Mestre em Estudos sobre Mulheres, Investigadora no Centro de Estudos das Migrações e das Relações Internacionais da Universidade Aberta, participou na Fundação da Liga dos Direitos das Mulheres e fez parte da direção da Associação para o Planeamento e a Família, e como a própria dizia “Fui sempre feminista mesmo quando não sabia que era. A pessoa não larga os seus sonhos, os seus ideais, assim a qualquer hora. Ainda há muito a fazer pelas mulheres e são elas que têm de o fazer. (…)”
A esta Mulher de Causas e de Lutas, o Grupo Municipal do Partido Socialista rende a devida Homenagem e recordá-la-á como a própria disse em 2020, em entrevista ao Jornal Público, que gostaria de ser recordada, como “Uma mulher que trabalhou toda a vida! Que se interessou toda a vida pelas mulheres, sim. Mas não sempre da mesma maneira. Foi variando conforme os temas mais crus. Por exemplo, no tempo do aborto: era o último recurso, mas no fundo era o primeiro”
A Assembleia Municipal da Amadora reunida em Sessão Plenária no dia 27 de abril de 2023 delibera:
- Expressar o seu profundo pesar pelo falecimento de Maria Antónia Fiadeiro transmitindo aos seus filhos e demais familiares as mais sentidas condolências.
O Grupo Municipal do PS
Vitalina Gomes Costa Silva